“Goool do Fenômeno Ronaldo! O craque da camisa
número 52!” Soa estranho. Fica estranho na camisa. E, acima de tudo, o
cara não pode ser craque e ter o número 52. Parecem duas coisas
incompatíveis. Conheça então um pouco da história dos números no
futebol, uma tradição tão conhecida e ao mesmo tempo esquecida nos dias
de hoje.
A origem dos números nas camisas é
atribuída ao inglês Hebert Chapman, que testou a ideia pela primeira vez
em 1928. O Arsenal visitou o Sheffield Wednesday, tendo os dois times
camisas numeradas. Embora parece hoje óbvio que os números facilitam a
identificação dos jogadores por árbitros e torcedores, segundo o site
dos Gunners o objetivo inicial era ajudar os próprios jogadores a ter
referencial dentro de campo. Daí veio a prática de atribuir um número a
cada posição. Ah, e curiosidade: nessa primeira partida um time jogava
com números de 1 a 11 e o outro com números de 12 a 22 (não havia número
para reservas pois as substituições só viriam na década de 1960).
A Federação Inglesa (FA), entretanto, só deu o braço a torcer à idéia em
1939, sendo que nesse tempo os números continuavam aparecendo de forma
apenas experimental, sendo raros os registros. Aparentemente, foi nessa
época que alguém teve a brilhante conclusão que era desnecessário os
dois times terem numeração diferente, porque quando oficializou o
sistema a FA já adotou a numeração de 1 a 11 obrigatória e por posição.
A partir daí, começou a surgir números clássicos no futebol em todo o
mundo. Goleiro? Camisa 1, claro. Se é centroavante, camisa 9. Aquele
craque da armação? É o camisa 10 do time. Repare no quadro abaixo como a
numeração começou seguindo uma lógica clara na Europa ainda na época
que sistema bom mesmo era o 2-3-5, e depois a evolução para os clássicos
4-2-4 e 4-3-3 de onde as numerações de qualquer outro esquema variam.
Como pode ser notado, a única grande diferença entre Brasil e Europa
fica por conta da inversão dos números 2 e 4 entre laterais e zagueiros.
Não se sabe bem o porquê disso, mas talvez seja devido à novidade
chegar aqui quando o sistema 4-2-4 já ultrapassara o 2-3-5 e o
lateral-direito era o segundo da lista depois do goleiro. O tradicional
Fluminense em alguns casos usa o padrão Europeu (não é o caso atual), já
o Santos tradicionalmente usa o 4 na lateral-direito, mas inova usando o
3 na lateral-esquerdo.
Os números nas camisas apareceram pela primeira vez em Copas do Mundo
aqui no Brasil, em 1950. Pouca gente que tenha estudado um pouco o
período parece se esquecer que o número de nosso carrasco, Alcides
Ghiggia, era o 7, como bom ponta-direita que era. Mas foi em 1954 que a
Fifa instituiu uma mudança que demoraria a pegar, mas que hoje põe em
risco a tradição numérica: a numeração fixa por inscrição. A moda
demorou a chegar (no Campeonato Inglês o sistema de 1 a 11 foi
obrigatório até 1993, quando o número fixo virou obrigatório), mas hoje
já se espalha por várias competições. E, pior, criou a cultura de
números esquisitos mesmo quando não são obrigatórios, como vários times
já fazem no Campeonato Brasileiro, já que os marqueteiros dos clubes
viram aí uma grande oportunidade de vender camisas.
E pode piorar, com a prática de aposentadoria de camisas, que pelo menos ainda não chegou ao Brasil (embora o Vasco tenha tentado aposentar a 11 de Romário), mas, importada dos esportes profissionais dos Estados Unidos, já faz algum estrago nas súmulas europeias. E é de lá mesmo dos Estados Unidos que vem o exemplo de onde isso pode parar: o time mais tradicional da NHL (liga de hóquei no gelo), o Montreal Canadiens, só tem dois números baixos, também tradicionais no esporte, não aposentados.
Entretanto, é exatamente de quem começou a minar a tradição dos números
que vem uma certa proteção a eles: a Fifa. Em torneios oficiais dela, um
jogador pode escolher qualquer número que deve ser fixo, desde que
preencha todos os menores números possíveis. Ou seja, na Copa a lista de
23 jogadores pode ser numerada de qualquer forma, desde que de 1 a 23.
Esse sistema que impediu, por exemplo, a aposentadoria da camisa 10 da
Argentina em 2002 em homenagem a Maradona e, graças a isso, ocupada
atualmente pelo merecedor Lionel Messi.
NÚMEROS E CURIOSIDADES:
- Com o começo das substituições
em 1965, o jogador que entrasse primeiro vindo do banco ia com a 12. O
segundo podia jogar com a 13 ou a 14, devido a superstição.
- A seleção brasileira esqueceu de enviar a numeração para a organização da Copa de 1958, então um dirigente uruguaio o fez sem conhecer os jogadores. Garrincha (11) e Zagallo (7) jogaram com números invertidos do habitual, e o garoto e então reserva Pelé ganhou a 10 por acaso.
- A seleção brasileira esqueceu de enviar a numeração para a organização da Copa de 1958, então um dirigente uruguaio o fez sem conhecer os jogadores. Garrincha (11) e Zagallo (7) jogaram com números invertidos do habitual, e o garoto e então reserva Pelé ganhou a 10 por acaso.
- Em 1982, a Inglaterra numerou seus atletas por ordem alfabética, apenas reservando os números 1 para o goleiro e 7 para seu capitão. Em 1974, a Holanda também utilizou ordem alfabética sem abrir exceção para goleiros, só liberou a 14 para Cruijff. A Argentina usou essa técnica de 1978 a 1986, só abrindo exceção para Maradona. Isso levou a alguns jogadores de linha entrarem com a 1 (o meia Artiles até marcou um gol em 1982 com o número).
- Em 1978, outra curiosidade no time holandês. Nada de ordem alfabética, mas quem esteve na Copa de 1974 repetiria obrigatoriamente o seu número.
- Zerouali, um jogador marroquino, conseguiu licença da Federação
Escocesa para usar o número 0 pelo Aberdeen depois que a torcida o
apelidou de “Zero”.
- Diego Souza jogou algumas partidas pelo Atlético Mineiro em 2010 com o
número 1. Há casos opostos também de goleiros com número de linha:
Gilmar jogou a Copa de 1958 com a 3; Lucas Bucci, do Parma, jogou com a 7
e a 5 por opção própria.
- Alguns atletas enfeitam seu número. Rogério Ceni usa 01, o 10
invertido (número de craque do time). Zamorano lançou a moda do “+”:
depois de darem a 9 na Inter de Milão a Ronaldo, jogou com a camisa 1+8
(oficialmente 18), depois seguida por outros atletas.
- A AFC exige número fixo para toda a eliminatória da Copa da Ásia, permitindo que atletas usem 3 dígitos (caso do australiano Oar, que usou 121 nas eliminatórias para a Copa da Ásia de 2011).
- Avaí, Atlético Mineiro e Flamengo aposentaram a camisa 12 no Brasil em homenagem à torcida, o décimo segundo jogador (prática já usada antes em outros países).
- No Brasil é comum o uso de números comemorativos, como o número de jogos do atleta pelo clube em alguma ocasião especial, ou um número referente à idade do clube quando do seu aniversário.
- A AFC exige número fixo para toda a eliminatória da Copa da Ásia, permitindo que atletas usem 3 dígitos (caso do australiano Oar, que usou 121 nas eliminatórias para a Copa da Ásia de 2011).
- Avaí, Atlético Mineiro e Flamengo aposentaram a camisa 12 no Brasil em homenagem à torcida, o décimo segundo jogador (prática já usada antes em outros países).
- No Brasil é comum o uso de números comemorativos, como o número de jogos do atleta pelo clube em alguma ocasião especial, ou um número referente à idade do clube quando do seu aniversário.
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